Por BK Jayanti
Meditar quer dizer focar a minha atenção em aspectos da verdade eterna. Quando me torno capaz de ouvir, a eternidade fala comigo a partir de inúmeras fontes.
Sentados à beira-mar, é fácil sentirmo-nos transportados pela imensa energia do vento, e das ondas, até a um reino além dos limites do tempo e do espaço. Contemplando a beleza e a complexidade de uma flor, o meu sentido de deslumbramento diante da criação é revigorado. Observando as estrelas num céu limpo, sinto-me desligado do corpo e lançado na imensa imensidão do cosmos.
O poder notável da natureza espelha a vastidão da minha própria identidade eterna. Compreender e vivenciar tal identidade é o segredo de podermos meditar como queremos.
O poder da mente
A matéria tem os seus próprios limites, por ser definida no tempo e no espaço. Mas a mente vai além de limites em termos de parâmetros físicos.
Sempre que começo a prestar atenção àquilo que se passa na minha mente, o seu poder extraordinário evidencia-se completamente. Consigo ligar-me a um amigo em Nova Iorque ou em Bombaim numa fração de segundo. Posso pensar no dia de ontem ou de há vinte anos atrás, posso pensar sobre hoje ou sobre os próximos cinco anos. A minha mente é até mesmo capaz de se mover em dezenas de direções no mesmo instante.
Em si mesmos, os pensamentos têm diferentes níveis de poder. Às vezes, voam para o passado, deixando poucos traços. Outras vezes são acompanhados de sentimentos capazes de me influenciar, tanto na minha aparência como no meu estado interior.
Alterando o padrão
A energia do pensamento e dos sentimentos não é uma energia física, é extremamente subtil, transcende os limites da matéria. Contudo, esta está intimamente ligada ao corpo e precisa do corpo para se exprimir. Alguns cientistas chamam-na de energia da consciência.
Temos que canalizar e disciplinar essa energia, se quisermos meditar. De facto, uma das principais razões para entrar em meditação pode ser a necessidade de disciplinar essa energia que está no âmago da nossa identidade e da nossa vida. De dia e de noite, desde o começo da existência, ela permaneceu em movimento. Mas se não a cuidarmos, poderá eventualmente tomar a direção errada.
Quando as minhas ideias e sentimentos estão desorganizados, a minha vida será instável e tanto os meus relacionamentos como a minha saúde tenderão a estar assim também. Pior ainda: se desconheço o que se passa na minha própria mente, posso tornar-me o meu principal inimigo, sabotando as oportunidades que surgem no meu caminho para encontrar a felicidade.
Com frequência, as lembranças que os pensamentos trazem à tona são de sofrimento. Por vezes, percebo que estou a reviver esse sofrimento repetidamente, embora saiba que isso me esgota. Nesse caso, é preciso alterar o padrão.
O espírito interior
Como primeiro passo da meditação, contemplo o que se passa dentro de mim, a um nível mais profundo. Não quero mais ser um estranho para mim mesmo, mas quero conhecer-me, valorizar-me, respeitar-me e amar-me ainda mais do que tenho feito até agora. Desejo aprender a usar os meus pensamentos da maneira mais eficaz possível. Anseio por tornar a minha mente uma amiga fiel.
Decido então, encontrar um lugar onde possa sentar-me por alguns minutos, sem interrupções, a fim de me focar no eu e explorar o meu mundo interior.
Será que sou apenas um produto da atividade química e elétrica do cérebro?
A ciência descobriu muito sobre a mecânica das nossas funções físicas, mas a maioria dos estudiosos admite que a experiência qualitativa de estarmos juntos continua a ser um mistério.
De uma perspectiva espiritual, também houve certa confusão, com interpretações de muitas escolas de pensamento diferentes sobre como é que a mente e a alma funcionam. Isso é verdade, mesmo entre as filosofias orientais, que historicamente deram mais atenção a esse ponto.
Na meditação, um raciocínio simples, mas poderoso, pode esclarecer quem sou eu, e consiste em compreender que, embora o meu corpo seja essencial para a minha experiência de vida, este não se confunde comigo. Nos ensinamentos do Raja Yoga, a alma e o corpo são considerados entes separados, não importa quantas ligações possam existir entre si. A mente, que dá origem aos meus pensamentos e sentimentos, é vista como uma qualidade da alma, não do corpo.
Isso relembra a diferença entre um aparelho de televisão e os programas que este transmite. Os programas nascem dos produtores e dos que fazem os roteiros, não do televisor em si.
Assim acontece com os meus próprios pensamentos. Eles nascem de uma dimensão espiritual do ser, na consciência, não no cérebro como órgão fisiológico. Perceber a diferença e compreender essa distinção é muito enriquecedor. Tal como sou seletivo quanto à programação da TV, também posso aprender a fazer escolhas entre os pensamentos ou os sentimentos que são úteis e inspiradores para mim, e para os outros, e aqueles que me abatem e desanimam.
Eu sou uma estrela
Em resumo, eu tenho um corpo, mas sou uma alma. Configuro um ser não-físico, eterno, com capacidade de transcender as limitações do mundo material. Expresso-me de diferentes maneiras por meio do corpo, mas existo pela minha própria natureza.
Para experimentar essa distinção, é importante visualizar o eu, a alma, como um ponto de luz radiante, como uma estrela situada entre os olhos, no centro da testa. Vamos seguir a seguinte experiência:
Voltando-me para o meu íntimo, seleciono um pensamento referente à minha própria identidade... vejo-me a mim mesmo, não em termos físicos, mas como um ser interno de luz... pratico essa visualização, criando a imagem de um ponto de luz, concentrado e forte, no meio da testa... conservo essa imagem na mente e, apesar dos outros pensamentos presentes, no momento só me interesso por aquela ideia que mantenho na minha consciência... Enquanto me foco no ponto de luz, sinto que a consciência da minha forma material se desvanece... e começo a entrar em contacto com as minhas qualidades interiores... Sou esta luz, esta verdade... descubro a paz, a força e a bondade dentro de mim... e cresce o sentimento de que, por um tempo, o meu coração esteve bloqueado, mas agora há uma integração a acontecer... As defesas que ergui começam a desmoronar-se e eu reconheço o amor que existe dentro de mim.
Extrato do livro “O Poder de Cura de Deus, como a Meditação pode Ajudar a Transformar a sua Vida”, 2012.